Como conhecer as melhores praias da Ilha Grande a bordo de um veleiro
Por três dias embarquei em um veleiro a fim de descobrir as melhores praias da Ilha Grande, e trago junto a este relato algumas dicas para que você também possa realizar um passeio como este.
Sou nascido e criado em Curitiba, mas graças a carreira militar de meu avô, na Marinha, tive o privilégio de crescer também em Angra dos Reis, onde atualmente reside uma parte de minha família e desde pequeno passei minhas férias escolares.
Angra é um lugar especial, principalmente por causa de suas ilhas e seu mar calmo dentro da baía formada pela Ilha Grande, mares esses onde aprendi a nadar, andar de caiaque, observar a vida marinha e estabelecer um vínculo maior com a natureza.
Não me lembro quando foi a primeira vez e nem quantas vezes já fui a Ilha Grande, mas basicamente sempre que fui fiquei na Vila do Abraão, que é o principal ponto de apoio para todo turismo da ilha e suas praias adjacentes.
Dos pontos mais conhecidos da ilha já havia visitado basicamente os que ficam de frente para o continente, com exceção da praia de Lopes Mendes, que é voltada para “fora”, com uma extensão de 3 quilômetros de areia branca, um mar translúcido, combinados com as amendoeiras que crescem ao longo de toda praia e sua baixa movimentação, fazem dela um cenário paradisíaco.
Viajar em um veleiro não é sinônimo de luxo
No verão de 2019, junto aos meus pais e meus dois irmãos, decidimos conhecer um pouco mais do lado da ilha que se volta para alto mar, o qual os relatos são muitos excitantes devido à beleza de certa forma virgem dessas localidades.
Para isso contratamos um veleiro, que também é uma paixão de família, para fazermos um charter de 3 dias e 2 noites. Esse serviço é basicamente composto por pessoas que normalmente moram embarcadas e, que para custear suas vidas, vendem espaços remanescentes para passeios junto a uma vivência a bordo.
Ao entrar em um veleiro já deve ficar subentendido que os luxos de um hotel ficam para trás, mesas dobráveis, camas que só se armam para hora de dormir, banheiros minúsculos, utensílios sempre presos para não caírem e muito cuidado ao andar do lado de fora do barco, porém, tudo é compensado com a facilidade de se chegar aos destinos, a possibilidade de descansar com o balanço do mar, apreciar a vista em seus mínimos detalhes, dada a velocidade baixa do barco, e ter a noção de como é morar sobre as águas.
Como contratar esse serviço?
O serviço de charter está se popularizando cada vez mais no Brasil, vários veleiros e catamarãs trabalham a temporada de verão ou o ano todo fazendo esses passeios, sendo a região da Ilha Bela e a da Costa Verde (extensão de litoral que engloba Paraty a Ilha Grande) as que contam com maior oferta, devido seus grandes tráfegos marítimos, possibilitando uma grande variedade de barcos a serem escolhidos.
Grande parte deles possuem sites próprios e estão cadastrados em páginas feitas para quem busca um charter, porém, dada a facilidade a maioria dos passeios são fechados pelo AIRBNB (site que conecta anfitriões com pessoas que desejam viajar e que optam por fugir dos hotéis convencionais, preferindo um apartamento, uma casa viverem como locais ou acomodações alternativas, como um barco, para se obter uma experiência diferente.
Na Ilha Grande existem 119 resultados de embarcações, sendo lanchas, veleiros e catamarãs, disponíveis para estas experiências no AIRBNB, todos os preços podem ser consultados na hora pelo site fazendo uma simulação com o número de noites e de pessoas e dúvidas podem ser mandadas direto ao anfitrião.
Os serviços oferecidos
Dentro do preço da diária já está incluso além das acomodações, o skipper (aquele que conduz a embarcação e os tripulantes), a hostess e o diesel (para se velejar é necessário vento, e muitas vezes ele pode não aparecer) e dependendo de cada veleiro outras comodidades também, no nosso caso o café da manhã, o stand-up paddle, máscaras de mergulho, água e frutas também estavam inclusos.
As refeições são pagas à parte, para nós foi oferecido um cardápio previamente para que pudéssemos escolher quais refeições faríamos no barco e quais seriam os pratos, sendo estes pagos à la carte. As bebidas também são listadas no cardápio e pode-se informar a média de quanto será consumido para que eles façam a compra, no final você paga apenas o que consumiu, também existe a opção de se solicitar drinks e coquetéis.
Este sistema de refeições não é válido para todos os barcos, existem aqueles que cobram um valor diário por pessoa pelas refeições do dia todo. A opção de se cozinhar a bordo normalmente é negada pelos anfitriões devido à logística dos ingredientes, das louças e do tamanho reduzido da cozinha na embarcação.
1º dia
Embarcamos de manhã (em um cais previamente combinado) e primeiramente, conhecemos os proprietários, Jairo e Bruna, um casal de gaúchos, que trocaram seus empregos, fisioterapeuta e advogada, pela casa flutuante. Ele veleja desde pequeno e tem amplo conhecimento da prática, fazendo o papel do skipper, ela atua como hostess, garantindo uma boa experiência para quem está a bordo. É crucial conhecer bem os anfitriões, afinal o barco é pequeno e você convive com eles como amigos que te recebem em sua casa.
Conhecemos também o veleiro Caboges, com mais de 30 anos, 37 pés (medida usada para se dizer o tamanho de um barco, corresponde a cerca de 11 metros de comprimento), e com estrutura em aço, que possibilita navegação em águas mais frias. Seu interior conta com um quarto de casal e um banheiro na popa (parte de trás do barco), uma cozinha, a área da mesa, onde pode se montar um beliche junto a uma cama e mais uma cama de casal na proa (parte da frente do barco).
*Atualmente o Jairo e a Bruna trocaram de veleiro e não estão mais no AIRBNB, você consegue contatá-los pelo Instagram.
Após cerca de 3 horas de navegação ancoramos na Praia do Pouso, um lugar abrigado e de mar calmo, que conta com alguns restaurantes e poucas casas. Essa localidade é o principal ponto de partida da trilha até Lopes Mendes, que é de nível fácil e leva cerca de 20 minutos para ser feita. Almoçamos em um dos restaurantes da praia e de tarde pegamos a trilha, apesar de o tempo estar nublado, ir até Lopes Mendes é sempre encantador. Para a nossa surpresa, a praia estava cheia de argentinos, foi mais engraçado do que chocante, estávamos acostumados a ver aquela praia sempre vazia, curtimos um pouco e voltamos.
Locomoção entre mar e terra
Para sair e voltar do barco em lugares onde não existem cais, que são maioria na Ilha Grande, o trajeto pode ser feito a nado ou a bote motorizado conduzido pelo skipper, possibilitando que a experiência seja vivida até por quem não sabe nadar.
A noite caiu e o tempo limpou, o barco se tornou uma grande varanda para se escutar sons e apreciar as estrelas deitado no convés. O jantar foi preparado pela Bruna, um cachorro-quente, mas que dividido no aconchego do barco ganha mais valor.
2º dia
A noite foi agradável com o vento entrando pelas escotilhas, levantamos e o dia estava ensolarado, tomamos um bom café da manhã e seguimos a viagem, passamos a ponta da ilha e entramos em alto mar, conseguimos velejar com os motores desligados por um tempo e após observar os recortes da ilha chegamos na Praia de Dois Rios.
Mais uma praia de beleza estonteante, que como o nome diz, possui dois rios desembocando no mar, cada um em uma extremidade, e fora as belezas naturais, conta também com uma carga histórica.
Até o ano de 1994 a praia abrigava um presídio e em sua vila ainda sobrevivem casas de pessoas que trabalhavam nele e decidiram se estabelecer no local ou até ex-detentos que por lá ficaram. Por ser uma vila planejada com ruas e casas de arquitetura similar, se não fosse pelo chão de areia, a impressão seria de estar em uma bucólica cidade do interior.
Dois Rios também tem uma história mais antiga, o local foi uma fazenda na época do Império e abrigou um número grande de escravos que eram responsáveis pelo plantio de cana-de-açúcar e de café, em 1894 o complexo foi vendido para o governo e em 1904 começou a receber presidiários já com estatutos de penitenciária.
No local atualmente existem dois museus, um na antiga casa grande da fazenda e outro no que restou da estrutura da prisão. Infelizmente não conhecemos nenhum deles, pois, era uma segunda-feira e ambos estavam fechados.
Após alguns mergulhos voltamos para o veleiro e almoçamos um delicioso churrasco, e prosseguimos a navegação até a Parnaioca.
A praia se localiza em um saco fazendo com que seu canto seja indicado para pernoite, devido às ondulações não chegarem com força, e possui um visual intocável, olhando do mar é uma belíssima faixa de areia amarela, com a vegetação e os morros ao fundo. O lugar tem uma população bem pequena e conta com 4 campings para quem deseja desfrutar de um lugar extremamente calmo, dentre as melhores praias da Ilha Grande essa foi a minha favorita.
De noite vimos mais um espetáculo no céu, como o lado de “fora” da ilha é mais escuro a observação se torna mais bonita. Isso acompanhado de deliciosas pizzas preparadas desta vez pelo Jairo.
3º dia
Após uma madrugada turbulenta, devido ao calor e a falta de vento para refrescar o barco, levantamos e logo em seguida do café nos dirigimos para a Praia do Aventureiro, uma das mais famosas da ilha.
Se a Parnaioca no dia anterior tinha gerado um impacto positivo com relação a sua calmaria, no Aventureiro foi ao contrário. Sem tirar méritos da praia, que também é extremamente bonita, mas de tanto ouvir falar você acaba criando uma imagem na cabeça, e a verdade é que a vila já está bem habitada, com bastante estrutura e vários barcos ancorados. Enfim se você quer curtir a natureza com um pouco mais de conforto e ainda uma pegada mais relaxada com várias menções a cultura do surf e do reggae, lá é o lugar ideal.
Fizemos um lanche em um dos restaurantes do local e após cerca de 2 horas aproveitando reembarcamos para o trajeto final, a volta para o continente dobrando a outra ponta da ilha.
Conhecer as melhores praias da Ilha Grande foi um sonho que a minha família realizou junto e, mesmo passando mais tempo embarcados do que nas praias, o passeio valeu muito a pena, a velocidade de navegação permite uma observação calma e detalhada do céu, do mar e da terra.
Se você deseja conhecer mais da cultura de veleiros e de pessoas que vivem a bordo indico o canal do youtube #SAL, que conta histórias maravilhosas com uma filmagem de primeira.
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Muito prazer, eu sou o Felipe!
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